sábado, 16 de agosto de 2008

Conheça um pouquinho mais o Quintela

Entrei em casa, e logo depois fui chamado para fora, devido a gritaria de transeuntes na rua, que flagraram o moço descendo a pedrada no meu carro, que estava parado em frente a minha casa. Fui a rua. Não vi ninguém mais. Avisaram-me que ele estava no beco. Fui até lá para saber do que se trata.
Quando cheguei chegando, demos de frente um com o outro. Ele tentou fugir, eu o chamei com voz firme, ele voltou submisso e cabisbaixo, resmungando. Quando fui inquiri-lo acerca do que havia feito, já que o carro estava com a lataria do porta-malas toda furada dado ao apedrejamento sucessivo e violento, olhei bem nos seus olhos e só então o vi, só então o enxerguei, só aí o percebi...
Era um moço perturbado, obviamente esquizofrênico. Esquizofrenia de verdade (não essa sua, e nem a minha). Esquizofrenia clínica. Entendi tudo: Ele me viu cruzar sua toca, a caverna onde se esconde das alucinações que o espreitam todo tempo, e daí, a visão do uniforme branco (muito branco!) deve tê-lo assustado e provocado mil viagens de aflições persecutórias: Internações psiquiátricas, injeções pós-surtos, enfermarias, cheiros, gostos, faixas de contenção, agulhas, invasão, sedação, solidão...
Ele esperou que eu entrasse em casa. Saiu do beco com uma pedra imensa, e conforme testemunhas, foi até meu carro - que ele sabia que era meu - e o apedrejou sucessivas vezes. Depois correu de volta a sua Gadara existencial, fugidio.
Eu pensei: "Se ele atacou o veículo, uma representação de mim, pode vir a atacar um filho ou minha mulher... " Ou pode empurrar para dentro do canal (moro em frente a um dos famosos canais de Santos) algum passante desgraçadamente vestido de médico.
Chamei a família. Gente sofrida. Sem dinheiro. Tanta impotência. Explicaram-me que ele cresceu sadio até os 16 anos, desde quando o quadro psíquico foi se revelando e adensando. Agora ele tem 23 anos. Não estuda, não trabalha, pouco fala, não quer escutar, vaga pela noite, sem destino, dorme de dia, tem medo do mundo, tem mais inimigos invisíveis que os evangélicos da batalha espiritual. Não está medicado, nem acompanhado... é um nada, um ninguém jogado, vive no planeta Terra, mas não habita a dimensão da lucidez que caracteriza os humanos. Senti pena. Muita pena...

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